HOMENAGEM


Homenagem



Aos quatro ou
cinco anos, eu era uma garotinha que já gostava de fazer versos. Parece que eu
encerrava as minhas “apresentações” sempre com a mesma frase: bonecas no meu
coração. Tudo a ver com a minha paixão do momento...
Ao longo de
minha vida ouvi meu pai repetir esta estória. Aliás, sempre com muita alegria e
orgulho da “precocidade” da primogênita.
Por isso, o
título do blog é uma homenagem a meu pai, Humberto Narbot.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SINHOZINHO E OS FRANGOS


 
No início dos anos 1950 a vida era bem diferente, com menos comodidades do que as que temos hoje, lógico.
Não havia, por exemplo, supermercados. Comprava-se no armazém de secos e molhados, empório, mercearia ou, como mais comumente se falava, na “venda”.
Algumas pessoas compravam à vista. Outras faziam uso de uma instituição chamada “caderneta”. A cada vez que ia à venda, o freguês levava a caderneta, onde o dono ou o balconista do armazém anotava as compras feitas. No dia em que recebia seu salário, o freguês quitava a dívida e a seguir começava outra. Acho que todo o mundo já ouviu a expressão “freguês de caderneta”.
A vida moderna substituiu a caderneta pelo cartão de crédito.  E, entre outras facilidades, passou a nos proporcionar o supermercado, os congelados, os frangos e perus já limpos, prontos para o forno.
No tempo da venda, não havia nada disso. Comprava-se os frangos ainda vivos. Algumas vezes, o fornecedor, que geralmente os criava no quintal de casa, consentia em entregá-los mortos, caso o freguês fosse menos corajoso. Mas, a tarefa de depená-los cabia à dona-de-casa. A casa ficava com o horrível cheiro de frango depenado por dias e dias. Porque o método utilizado consistia em “queimar” as penas para soltá-las. Se acrescermos a este trabalho insano e mal-cheiroso, o fato de que frango era coisa cara, já se vê que o consumo não era grande. Havia um ditado que dizia; “Quando pobre come galinha, um dos dois está doente; em geral é a galinha.”
Num bairro de São Paulo havia um homem conhecido por Sinhozinho que, já aposentado, criava em seu quintal, galinhas para vender. Mas não as criava soltas, e sim em gaiolas. Seria um precursor dos frangos de granja?
Sinhozinho era freguês de uma das tais vendas lá do bairro. O proprietário dela, homem de idéias progressistas e avançadas, propôs-lhe então um negócio: que tal se a mercearia pegasse encomendas de frangos já limpos, para o fim de semana? Sinhozinho poderia trazer os frangos limpos, e o lucro de ambos, por esse diferencial, seria maior. Sinhozinho concordou, e os dois precursores do frango limpo iniciaram o negócio. Foi colocado um cartaz na mercearia anunciando que, no fim de semana seguinte, estariam à venda, sob encomenda, frangos já limpos.
No primeiro fim de semana venderam quinze frangos. No fim de semana seguinte, a procura aumentou. No terceiro fim de semana, a coisa desandou.
Sábado à tarde, Sinhozinho chega à mercearia esbravejando. Sujo, descabelado, coberto de penas, cheirando a frango depenado, entregou os pontos. Disse que não precisava daquilo, que não sabia porque havia se metido em tal enrascada, que não ia limpar mais frangos coisa nenhuma.
Como fazer com as encomendas? Situação difícil. A família do dono da mercearia dispôs-se a ir à casa de Sinhozinho ajudá-lo com o que faltasse.
Ao lá chegar, encontraram a casa imunda, com penas sobre todos os móveis, cobrindo o chão, fedor de frango depenado. A mulher de Sinhozinho estava uma fera. Era, enfim, um caos.
Enfim, o trabalho foi concluído, as encomendas entregues. Mas, a ideia precursora de vender frangos já limpos, estava morta e enterrada.
Sinhozinho vendeu todos os frangos que tinha em casa, inclusive com as gaiolas e nunca mais quis saber de criar frangos. Consta, aliás, que nunca mais sequer comeu carne da ave.

2 comentários:

  1. Reminiscência com muito riso... Preciosidade. Ótimo, Lu. Parabéns!

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  2. Tivesse ele encontrado uma oficina para depenar os frangos, não? Ora, ora meu rapaz! he he he

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