No início dos anos 1950 a vida era bem diferente, com menos comodidades
do que as que temos hoje, lógico.
Não havia, por exemplo, supermercados. Comprava-se no armazém de secos e
molhados, empório, mercearia ou, como mais comumente se falava, na “venda”.
Algumas pessoas compravam à vista. Outras faziam uso de uma instituição
chamada “caderneta”. A cada vez que ia à venda, o freguês levava a caderneta,
onde o dono ou o balconista do armazém anotava as compras feitas. No dia em que
recebia seu salário, o freguês quitava a dívida e a seguir começava outra. Acho
que todo o mundo já ouviu a expressão “freguês de caderneta”.
A vida moderna substituiu a caderneta pelo cartão de crédito. E, entre outras facilidades, passou a nos
proporcionar o supermercado, os congelados, os frangos e perus já limpos,
prontos para o forno.
No tempo da venda, não havia nada disso. Comprava-se os frangos ainda
vivos. Algumas vezes, o fornecedor, que geralmente os criava no quintal de
casa, consentia em entregá-los mortos, caso o freguês fosse menos corajoso.
Mas, a tarefa de depená-los cabia à dona-de-casa. A casa ficava com o horrível
cheiro de frango depenado por dias e dias. Porque o método utilizado consistia
em “queimar” as penas para soltá-las. Se acrescermos a este trabalho insano e
mal-cheiroso, o fato de que frango era coisa cara, já se vê que o consumo não
era grande. Havia um ditado que dizia; “Quando pobre come galinha, um dos dois
está doente; em geral é a galinha.”
Num bairro de São Paulo havia um homem conhecido por Sinhozinho que, já
aposentado, criava em seu quintal, galinhas para vender. Mas não as criava
soltas, e sim em gaiolas. Seria um precursor dos frangos de granja?
Sinhozinho era freguês de uma das tais vendas lá do bairro. O
proprietário dela, homem de idéias progressistas e avançadas, propôs-lhe então
um negócio: que tal se a mercearia pegasse encomendas de frangos já limpos,
para o fim de semana? Sinhozinho poderia trazer os frangos limpos, e o lucro de
ambos, por esse diferencial, seria maior. Sinhozinho concordou, e os dois
precursores do frango limpo iniciaram o negócio. Foi colocado um cartaz na
mercearia anunciando que, no fim de semana seguinte, estariam à venda, sob
encomenda, frangos já limpos.
No primeiro fim de semana venderam quinze frangos. No fim de semana
seguinte, a procura aumentou. No terceiro fim de semana, a coisa desandou.
Sábado à tarde, Sinhozinho chega à mercearia esbravejando. Sujo,
descabelado, coberto de penas, cheirando a frango depenado, entregou os pontos.
Disse que não precisava daquilo, que não sabia porque havia se metido em tal
enrascada, que não ia limpar mais frangos coisa nenhuma.
Como fazer com as encomendas? Situação difícil. A família do dono da
mercearia dispôs-se a ir à casa de Sinhozinho ajudá-lo com o que faltasse.
Ao lá chegar, encontraram a casa imunda, com penas sobre todos os móveis,
cobrindo o chão, fedor de frango depenado. A mulher de Sinhozinho estava uma
fera. Era, enfim, um caos.
Enfim, o trabalho foi concluído, as encomendas entregues. Mas, a ideia
precursora de vender frangos já limpos, estava morta e enterrada.
Sinhozinho vendeu todos os frangos que tinha em casa, inclusive com as
gaiolas e nunca mais quis saber de criar frangos. Consta, aliás, que nunca mais
sequer comeu carne da ave.
Reminiscência com muito riso... Preciosidade. Ótimo, Lu. Parabéns!
ResponderExcluirTivesse ele encontrado uma oficina para depenar os frangos, não? Ora, ora meu rapaz! he he he
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