Trabalho apresentado à Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro
Poesia Brasileira Contemporânea
Lu Narbot
I
– Conceito
A Poesia Brasileira Contemporânea é
aquela que começa a ser feita a partir de 1945, após o Modernismo, e vem até os
dias atuais.
II
- Introdução
O Modernismo não foi apenas um movimento
literário, mas um movimento cultural e social abrangente, que promoveu a
reavaliação da cultura brasileira. Liderado por Oswald e Mário de Andrade,
começou oficialmente com a Semana de Arte Moderna, de 13 a 18 de fevereiro de 1922.
O Modernismo iniciou a fase mais
produtiva da literatura brasileira. O livro inicial deste movimento foi
Paulicéia Desvairada (1922) de Mário de Andrade.
A contribuição mais importante do
Modernismo foi a defesa da liberdade de criação. Na Poesia, abandonaram as
formas poéticas rígidas, valorizaram os temas cotidianos, tratados sem
rebuscamento, com linguagem simples. Também é uma poesia de questionamento
social, filosófico, religioso, em que o poeta deve estar inserido e refletir o
mundo que o rodeia. De São Paulo e Rio de Janeiro, o movimento modernista
espalhou-se por todo o Brasil.
Além dos líderes Mário e Oswald de
Andrade, fizeram parte do Modernismo: Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia,
Guilherme de Almeida, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de
Morais, Murilo Mendes.
Seguiu-se uma terceira geração (1945 a
1980), autodenominada Geração de 45, que vinha em oposição às inovações modernistas,
por isto foi também chamada de Pós-modernista.
No início dos anos 1940 surgem dois
poetas que não se filiam esteticamente a nenhuma tendência, e que são
considerados os representantes mais importantes da geração de 45: João Cabral
de Mello Neto e Lêdo Ivo.
III
– Poesia Contemporânea
Nos anos 1950, como uma reação ao
Movimento Modernista, surgiu a Poesia
Concreta. Seus fundadores foram Décio Pignatari e os irmãos Augusto e
Haroldo de Campos ao criar, em 1952 a revista “Noigrandes” (que significa
antídoto contra o tédio, em linguagem provençal). Entretanto, a Poesia Concreta
só foi oficialmente lançada em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta,
em São Paulo. A proposta principal da Poesia Concreta é a utilização do espaço
gráfico, sem preocupação com a tradição de começo, meio e fim. Por isso, o
poema é denominado poema-objeto. Outras características desta poesia
são: realismo total contra a expressão da subjetividade, a eliminação do verso,
uso de neologismos e termos estrangeiros, exploração da sonoridade das
palavras, a possibilidade de múltiplas leituras e o aproveitamento de todo o
espaço em branco da página para a disposição das palavras. A comunicação visual
é a forma de expressão da Poesia Concreta.
Em 1959, o maranhense Ferreira Gullar e
outros poetas cariocas, romperam com o Concretismo e fundaram o Neoconcretismo, insurgindo-se contra o
que chamavam de normatização e dogmatismo do Concretismo.
Em 1964, Ferreira Gullar retoma o verso
discursivo e os temas sociais, visando retratar uma época e ter maior
comunicação com o leitor.
Após o golpe militar e o AI 5, surge a Poesia de Resistência, com Ferreira
Gullar, Affonso Romano de Sant’anna, Chico Buarque, Gianfrancesco Guarnieir,
Oduvaldo Vianna Filho e Antonio Callado, entre outros.
Nos anos 1970 surgiu a chamada Poesia Marginal, porque não tinha
vínculos com as grandes editoras, era produzida de forma independente e não
convencional, em gráficas de fundo de quintal, e vendida em portas de cinema e
teatros. Em 1980 houve uma “chuva de poesia”, lançada do alto do edifício Itália,
em São Paulo. As poesias eram manifestações de denúncia e protesto, que
zombavam da cultura e falavam do mundo imediato do próprio poeta.
Alguns poetas não se filiam a nenhuma
destas tendências, construindo uma obra pessoal. Entre eles, Adélia Prado,
Manoel de Barros, Cora Coralina.
IV
- Poetas Contemporâneos
Escolhi entre os poetas contemporâneos,
para este trabalho, pela diversidade de seus estilos, Manoel de Barros, Adélia
Prado e Paulo Leminski.
Manoel
de Barros
– (Cuiabá,
19/12/1916)
Manoel de Barros, cronologicamente
pertence à geração de 45, mas formalmente, aproxima-se mais do Modernismo
Brasileiro. Foi considerado por Carlos Drummond de Andrade, o maior poeta vivo
brasileiro.
A Menina Avoada – XIII
O riacho
que corre por detrás de casa
cria uma espécie de madrugada rasteira
de viçar meninos...
(do livro Compêndio para uso dos pássaros)
Adélia
Prado -
(Divinópolis 13/12/1935)
Adélia
Prado, embora escrevesse sonetos desde os 14 anos, só publicou seu primeiro
livro, Bagagem, em 1976, aos 40 anos, e já mãe de cinco filhos. Em sua obra,
Deus, a fé cristã, a religiosidade são constantes, assim como o seu cotidiano
de cidade pequena.
Trégua
Hoje estou velha como quero ficar.
Sem nenhuma estridência.
Dei os desejos todos por memória
e rasa xícara de chá.
(do livro Bagagem)
Paulo
Leminski –
(Curitiba,
24/08/1944 – 07/06/1989) –
Em 1964, o curitibano Paulo Leminski
começa a publicar suas Poesias na Revista Invenção, publicada pelos
concretistas. Herda do Concretismo a construção, os recursos visuais, mas une a
isto a coloquialidade. Aproxima-se também dos poetas marginais, pela publicação
não convencional de seus poemas.
Do
Livro Caprichos & Relaxos
Aves
de ramo
em ramo
meu
pensamento
de rima
em rima
erra
até
uma
que diz
te amo.
V
- Conclusão
Neste início do século XXI, múltiplas
são as tendências da Poesia Brasileira, sem preocupações com normas que a
possam engessar, e utilizando-se de diferentes mídias para manifestar-se. No
mundo atual, o poeta não apenas expressa sua emoção ou traduz e interpreta a
alheia, sua função é, também, questionar e incomodar.
Com o advento da internet, muitos poetas
foram surgindo no país. Se anteriormente lhes era impossível publicar, agora o
fazem com constância e quantidade na mídia virtual. Nossa Academia, a ANLPPB, é
um exemplo de como a internet pode reunir talentos que vivem fisicamente
distantes, mas que conseguem comunicar-se e enriquecer seu universo. Contrariando as previsões, a Poesia não só
não morreu, mas continua mais viva do que nunca. Novas formas surgiram, como o
Poetrix, a Aldravia, o Overtrip, etc.
Ao contrário do que ocorreu nos séculos
passados, todas as formas de poesia convivem pacificamente. Cada poeta é livre
para escolher a melhor forma de dizer o que deseja naquele momento.
Entretanto, alerta-nos Fabiano Fernandes
Garcez, no texto A Poesia Contemporânea em Debate, publicado no Recanto das
Letras:
“Há um grande problema na poesia
brasileira, é que ela ainda vive em pequenos grupos de amigos, ainda não chegou
ao grande público, há poucas, mais do que antes é verdade, mas ainda poucas,
discussões e encontros sobre poesia.”
“Porém, a poesia por seu caráter,
edificante e revolucionário, de questionar a realidade, tem que chegar às
calçadas, às ruas, aos guetos, enfim a todos, sem exceção, porque quando
questionamos a nossa realidade racional damos vozes à nossa irracionalidade
emocional e inconsciente, que é o que precisamos entender que o ser humano
necessita de algo bem mais caro do que o dinheiro pode comprar.”