HOMENAGEM


Homenagem



Aos quatro ou
cinco anos, eu era uma garotinha que já gostava de fazer versos. Parece que eu
encerrava as minhas “apresentações” sempre com a mesma frase: bonecas no meu
coração. Tudo a ver com a minha paixão do momento...
Ao longo de
minha vida ouvi meu pai repetir esta estória. Aliás, sempre com muita alegria e
orgulho da “precocidade” da primogênita.
Por isso, o
título do blog é uma homenagem a meu pai, Humberto Narbot.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

No Meu Tempo


 

No meu tempo...

Eta expressãozinha mais besta!

Já morri? Não? Então o tempo de hoje também é meu.

Por que a gente, que já nasceu há algum tempo, há de se excluir dos tempos que correm, como se fossemos mortos-vivos a assombrar os mais jovens?

Na vã e fútil tentativa de afirmar que antigamente, sim, as coisas eram boas, acabamos nos isolando da vida, marginalizando-nos voluntariamente das boas coisas modernas que ocorrem à nossa volta.

E será que, antigamente, tudo era mesmo tão melhor? Duvido. Havia algumas coisas melhores, mas também as havia piores. Bobagem querer insistir que vivíamos no melhor dos mundos.

Acontece que o tempo lança sobre o passado um véu dourado, e é sob este véu que visualizamos aquilo que ontem vivemos. Embaçado pelos anos e pela nossa própria má visão, os tons dourados imperam, e o passado fantasiado torna-se perfeito.

Por outro lado, como em nossa juventude ouvimos de nossos pais e avós que no tempo deles, sim, é que tudo era bom, agora queremos ir à forra. Então nos vangloriamos do “nosso tempo”, azucrinando nossos filhos. Afinal, chegou a nossa vez de atormentar os outros...

Se parássemos para refletir, talvez conseguíssemos enxergar a realidade do tempo “antigo” e não as fantasias que colocamos nele.

Lembra-se do telefone nos anos 50? Talvez não se lembre, porque poucos possuíam essa comodidade em casa. Para telefonar dependia-se da boa-vontade do dono da padaria, da farmácia, do armazém... Porque nem “orelhão” na esquina havia. Uma ligação para outra cidade, então, demandava horas de espera. Conforme a distância, mais rápido pegar um ônibus e dar o recado pessoalmente...

Televisão, só preto-e-branco, e com chuvisco... Fim-de-semana era um tal de os homens da casa subirem ao telhado para mexer na antena pra lá e pra cá. E a gente cá embaixo a gritar: agora piorou, muda o lado; isso, está começando a melhorar; ih!, piorou de novo... E lá se ia o sábado, sem que ninguém conseguisse ver o futebol! Bem que a gente tentava, até Bom-Bril na antena interna se colocava, numa última e desesperada tentativa de se ver alguma coisa...

Será mesmo que era melhor?

Mais crianças sem escola, mais analfabetos, mortalidade infantil maior... Sei não...

Mas a gente tem mania de dizer “no meu tempo era melhor”. Música, por exemplo. Sempre se ouve a geração dos pais dizer aos filhos que a música moderna é uma porcaria, não tem letra, não tem melodia, que as músicas antigas é que eram boas. Ora, música ruim havia até mesmo no tempo de Mozart, por que na nossa geração não? Assim como hoje também há música boa, sim.

O problema é que não queremos aceitar que a evolução e a mudança são coisas boas e não ruins. Além de tudo, inevitáveis, não há como fugir delas. Na nossa arrogância, não aceitamos que os jovens podem, sim, saber mais e fazer melhor que nós.  Que por serem diferentes, terem outros ideais e gostos, não são piores nem melhores, são apenas... diferentes.

Nós também mudamos. Não somos mais os jovens que éramos naquele bendito nosso tempo, nem pensamos igual ao que pensávamos. E, como diz a canção, estamos fazendo tudo como nossos pais.

Como nossos filhos farão, no futuro, e depois deles nossos netos. A Humanidade é sempre igual, só mudam as datas.

O melhor, mesmo, é nos apropriarmos de todos os tempos: o nosso, o dos nossos pais, filhos, netos, tirando deles o que eles têm de melhor e misturando qual os ingredientes de um bolo, fazendo com que a nossa vida cresça em vez de murchar, tornando-se cada vez mais doce.

Espero que o meu tempo não tenha passado, mas que ainda esteja começando a chegar...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Exílio (Indriso)



Lago de águas paradas.

Nem leve brisa arrepia

as mansas águas.

 

Sonhos mortos, muda voz

cegos olhos,

imobilidade atroz.

 

Vida inerte.

 

Inútil, exilou-se.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ex-Sexagenária




A partir de amanhã, deixo esta fase “sexy” de minha vida. Entretanto, creio que a mensagem deste poema escrito há dez anos, vale para os setenta, oitenta, noventa, etc. Assim sendo, vou publicá-lo novamente.

A foto do perfil foi atualizada para uma mais recente, de agosto deste ano de 2014.

 

 

Sexagenária

 

Desde agora quase tudo me será permitido,

pois volto a ser criança

e resgato a ingenuidade

e o não ter medo do ridículo.

De hoje em diante,

por motivo de minha recém conquistada liberdade

de ser velha-criança,

continuo a ter a esperança

que nunca perdi,

a sonhar todos os sonhos

que nunca deixei de sonhar,

a cantar, ainda que desafinada,

todas as canções que quiser,

inclusive e sobretudo as fora de moda.

Não rompo laços

porque nunca estive amarrada.

Insisto e persisto, como sempre,

a viver em paz comigo mesma,

com o mundo,

com o riso e a alegria.

Hoje é só uma data,

apenas um dia entre o ontem e o amanhã,

somente símbolo a confirmar

que o importante,

o real, o verdadeiro,

é amar e ser feliz.

Campinas, dezembro 2004.

Do livro Versos ao Longo do Caminho

 


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

AUTORRETRATO


Autorretrato


 

Esta mulher que me fita do fundo do espelho

acho que não sou eu.

Mas se eu não sou ela e ela não sou eu,

então quem sou eu?

Sou todas as rugas de minha face

Sou todos os fios brancos de meus cabelos

Sou todo o cansaço de meu corpo

Sou todos os pensamentos que pensei

Sou todos os sentimentos e emoções que senti

Sou todos os sonhos que sonhei

Sou todas as experiências que vivi

Sou tudo o que deveria e o que não deveria ter feito

Sou tudo o que fiz e tudo o que não fiz.

Sou tudo isto e ainda mais,

pois sou também as rugas que a plástica levou

os fios brancos de cabelos que tingi

tudo aquilo que fingi

o amontoado de pensamentos, sonhos e sentimentos

que se escondem

em cantos escuros da memória

em pontos recônditos do coração

em pregas e vincos da alma,

alguns envergonhados, outros tristes,

mordidos de remorsos pelo que poderia ter sido

e não foi, ou foi errado.

Sou ainda

o que pensaram de mim

o que sentiram por mim

o que sonharam para mim

o que viveram por mim

o que me deixaram viver

o que me deixaram sentir

o que me deixaram sonhar

o que não me deixaram viver

o que não me deixaram sentir

o que não me deixaram sonhar

o muito ou pouco que me amaram.

Por isso olho e não me reconheço.

Porque ao me olhar no espelho

só me vejo com o olhar do momento fugaz

em que meus olhos encontram meus olhos

no fundo do espelho.
 
 
(Do livro Versos ao Longo do Caminho)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Parceria, meu novo livro

 
 


Um livro de poemas para comemorar os meus setenta anos de idade. Um poema para cada ano de vida.

Prefácio de Angela Regina Ramalho Xavier . Comentários de Aline Romariz.

Publicado pela Editora Iluminatta.



Prefácio de Angela Regina Ramalho Xavier, amiga, escritora, blogueira.
 

Lu Narbot completa 70 anos e a poesia está em festa!

A cada ano de sua existência, ela brindou-nos com versos livres, trovas e aldravias, que expressam sua parceria mais do que exitosa com as palavras. Parceria que tenho acompanhado nos últimos anos, graças ao convívio afetuoso construído a cada evento organizado pelo Portal do Poeta Brasileiro e Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, instituições literárias das quais participamos.

Neste livro, Lu Narbot enfoca a poesia e sua relação com ela. A poesia enquanto parceira acompanha a autora, cujas bonecas – filhas do coração – plantou ao longo dos anos, colhendo versos que ora se rebelam, ora se ocultam, mostrando direito e avesso, revelando traços de imaturidade, timidez e impulsividade, mas revelando também traços de altivez e resistência.

Poesia e poeta neste livro se completam, se desnudam, se revelam. Uma ou outra às vezes foge, refugiando-se na noite, jogando palavras ao vento. Neste ofício, enveredado pelo destino, a autora nos deixa um legado. Traça sua escrita com teimosia, com atrevimento de quem sabe a hora do parto, bem como a hora em que vai nascer a poesia.

Sua luta não é vã. Na tecedura das letras, adivinha nossos pensamentos, cria expectativas, faz confissões. Alça voos feito as borboletas, exercitando sua porção poeta-pássaro. Acalanta-nos com um canto doce, conhecido somente por quem tem alma de poeta.

Sua poesia é a minha poesia, é a nossa poesia. A poesia e ela, a poesia e eu: simetria que transcende. Teia que nos une em sintonia e nos faz viver poetando.

A poesia de Lú não espera. Seu grito não é vazio. Ela tem premência! Usa de imposição e não silencia! Num arremedo solitário, a autora ensaia um mergulho, sem sequer imaginar o risco de uma queda. Corajosa, ela subsiste ao combate. Tentativa. Processo. Submissão. Resistência! É e sempre foi assim!

Essa força vem dela ou da poesia? Ou vem dela por causa da poesia? Não importa! Essa força existe e faz de Lucia Narbot uma artesã das palavras. Ela possui a estranha mania de colocar palavras em molduras. Persiste emoldurando o belo, num frenético apelo de amor pela poesia.

Aqui ela dança, perde o rumo, leva um susto, mas segue lançando gotas de lirismo pela jornada. No meio do percurso, esboça resistência. Mas a poesia (essa intrusa) persiste! Veio sem ser chamada. Embaça-lhe a visão e a ela rende-se a poeta, porque “contra a poesia toda luta é vã”.

E porque lutamos (ambas em vão), eu também me rendo à poesia de Lucia Narbot!

Angela Regina Ramalho Xavier

Pedagoga, Escritora e Blogueira

 

Comentários de Aline Romariz, amiga, poeta, Presidente do Portal do Poeta Brasileiro e da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro.




A poesia com enfeites de amor. Leve bálsamo, unguento de paixão e arte. A médica torna-se definitivamente poeta e firma parceria com o requinte próprio dos que escrevem com prazer.

Em cada verso um trabalho cheio de esmero...E da arte nasce o belo que se incrustou na alma da artista que gera filhos em sílabas de emoção tão singular.
 
E em cada poema Lu não deixa-se levar pelos anos que marcam a folhinha...e o tempo não passa e a vida se faz viva em cada linha poética que traça.

E assim cada filho poesia parece fazê-la andar na velocidade da luz, como se tivesse o dom de parar o tempo, a embalar bonecas em um coração pueril, a cantar versos e verbos, a ninar letras e rimas num róseo tom de um amor que se completa: mulher poeta.

 
Aline Romariz



 

domingo, 16 de novembro de 2014

Reminiscências da Infância

 
 



O som dos sinos, melodia antiga a destoar em meio ao moderno ruído das buzinas, traz reminiscências de um tempo diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Àquela época, os sinos marcavam nossas horas, nos chamando para a missa, a reza. Conhecíamos as diferenças no seu badalar, se era um dobre alegre ou triste, boa ou má notícia.

Crianças cantando - na realidade, berrando – na missa: “prometi na piscina sagrada, a Jesus sempre e sempre adorar...” (Elas diziam pescina)

Nas ruas de paralelepípedos, o caminhão do leite deixa o som das garrafas a chacoalhar em seus engradados.

O padeiro, controlando burro e carroça, entregando os pães às portas dos fregueses.

O verdureiro apregoando sua mercadoria.

Os bondes deslizando nos trilhos, gente a correr ao seu encalço, para não perder a hora do trabalho ou da escola. Cobrador e motorneiro, sempre os mesmos nos mesmos horários, com paciência e tempo para esperar seus passageiros, também sempre os mesmos. Todos se conheciam pelos nomes.

Gritos e cantos de crianças brincando na rua, jogando bola, pulando corda, brincando de pega-pega.

Vizinhos conversando às portas das casas. “Bom dia, dona Fulana, seu filhinho melhorou?”

A empregada varrendo a casa ao som da radionovela.

Mães mandando seus filhos buscar alguma coisa na mercearia da esquina, a do japonês: “pede pra marcar na caderneta.”

Gente varrendo as calçadas, alguns a regar os jardins.

Aqui e ali, em alguns quintais, galinhas ciscando, um galo cantando.

Os bem-te-vis gritando que tinham visto, mas não dizendo o quê...

Os aposentados dando umas voltinhas pelas ruas do bairro, trocando um dedo de prosa entre si, comentando as notícias do jornal.

Cheiro bom de bolo de fubá e café recém-coado.

Pressa havia, que todo mundo tinha horários a cumprir, mas parece que não era tanta quanto hoje. Menos carros nas ruas, trânsito mais fácil, gente mais paciente, sei lá...

Menos violência, menos medo, mais liberdade...

 

Minhas recordações não se referem a pequena vila no interior, não. Falo de minha infância, nos anos 50 do século passado, num bairro da zona sul de São Paulo. Acredite quem quiser!


(do livro Uma Rede na Varanda)

domingo, 12 de outubro de 2014

 
Para o Dia da Criança
 
 
 
 




Bonecas No Meu Coração

 

 

Quando menina pequena

Balbuciava um poema

E repetia um refrão:

“Bonecas no meu coração”.

 

Cresci fazendo mais versos,

Modificando o teor;

Pelos cadernos, dispersos,

Eles falavam de amor.

 

Envelheci e, teimosa,

Faço versos, toda prosa,

A alma plena de emoção:

 

Bonecas tão desejadas,

Minhas filhas bem-amadas

Estão hoje em meu coração.

 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014





UM TESOURO CHAMADO LIVRO

PROJETO DE INCENTIVO À LEITURA DO PORTAL DO POETA BRASILEIRO

 

JUNTE-SE A NÓS!

 

No dia 30 de cada mês, os poetas do Portal do Poeta Brasileiro – e são cerca de 5000 espalhados pelo Brasil – “esquecem” um livro em algum local público. Dentro do livro um bilhete, explicando o que é o projeto, e solicitando que, ao terminar de ler, quem o encontrou também o “esqueça”, para que outros possam desfrutar da leitura.

 

Se você quiser juntar-se a nós, neste projeto de incentivo à leitura, aqui vai um modelo de bilhete para colar no livro esquecido:

 

Você encontrou um TESOURO CHAMADO LIVRO. Parabéns!!

Sugerimos a leitura deste livro e que ao término de sua viagem pelas letras, deixe o livro em outro lugar público para que outras pessoas tenham o privilégio de encontrar o TESOURO. 

Entre em contato conosco:



PORTAL DO POETA BRASILEIRO

 PROJETO DE INCENTIVO A LEITURA

AJUDANDO O BRASIL A LER!

 

domingo, 28 de setembro de 2014

Sonhos não sonhados


Sonhos Não Sonhados

 

 

São sonhos

que os olhos não viram

no fundo verde da vida.

São sonhos

que a dor buscou

em meio ao vazio

das coisas reais

e em meio ao eco

de lendários cantos.

São sonhos

que a noite trouxe

para a ânsia louca

de viver correndo

com a imensa pressa

de tudo ouvir e ver,

e que por isso

ficam sempre sendo

aqueles sonhos
        que eu não pude ter.                                

quarta-feira, 24 de setembro de 2014




Casa de Pedra

 

 

Naquela casa de pedra

há janelas

como olhos que me espiam.

Naquela casa de pedra

as portas se fecham

diante de mim.

Naquela casa de pedra

um mistério impenetrável

me fascina.

Luto todas as lutas

sonho todos os sonhos

na busca

de desvendar o mistério

e penetrar

naquela casa de pedra.

 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014








É com muita alegria que estarei presente, através de meus livros Versos ao Longo do Caminho (poesia) e Uma rede na Varanda (crônicas e contos curtos), na Feira Literária de Maringá.
Agradeço a oportunidade que me foi concedida pela Editora Flor do Brasil. Obrigada, Maria Cristina Vieira e Angela Ramalho.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Inconsciência


Quem fui?

Quem sou?

Tudo perdi na imensidão do Nada.

Um vagalhão

Arrancou de meu pobre cérebro cansado

Tudo o que é forma, cor, som e ilusão.

Resta apenas a tristeza

De saber que fui

E já não sou...                                                       

São Paulo, 1962.