Ano Novo, vida nova.
Ele já não aguentava mais ouvir este chavão, infalível nesta época do ano.
Não que ele não
fizesse promessas de Ano Novo. Ao contrário, fazia-as, e muitas. Mas, como eram
promessas mirabolantes, nunca havia conseguido cumpri-las. Assim, chegava ao
fim do ano frustrado, cansado, decepcionado consigo mesmo.
Entretanto, não se
decidia a deixar de fazer promessas. Ainda desta vez, não iria deixar passar a
ocasião. Resolveu ser mais modesto, porém, e fazer uma única promessa, assim ,
quem sabe, cumpri-la-ia.
Prometeu então que
este ano iria aceitar-se como era, com suas qualidades e defeitos. Não ousava
prometer eliminar, nem mesmo amenizar, um só defeito. Apenas aceitação, iria
ser sua promessa de Ano Novo.
Aí descobriu que,
para aceitar-se, deveria primeiramente conhecer-se. Como aceitar aquilo que não
se conhece? Quem ele realmente era? Quais as qualidades que possuía? Quais seus
defeitos? O que sentia, como agia e reagia nas diferentes situações que a vida
lhe impunha? Lembrou-se do filósofo grego: “Conhece-te a ti mesmo”.
Percebeu então que
fizera uma promessa muito maior do que imaginara. Teria trabalho o ano todo,
dia após dia mergulhando em si mesmo, buscando conhecer-se, analisar-se,
encontrar-se.
Foi então que
compreendeu que, ao fazer aquela única promessa de Ano Novo, havia, na verdade,
feito uma promessa para todos os Anos Novos que lhe restavam viver.
(do livro Uma Rede na Varanda)