HOMENAGEM


Homenagem



Aos quatro ou
cinco anos, eu era uma garotinha que já gostava de fazer versos. Parece que eu
encerrava as minhas “apresentações” sempre com a mesma frase: bonecas no meu
coração. Tudo a ver com a minha paixão do momento...
Ao longo de
minha vida ouvi meu pai repetir esta estória. Aliás, sempre com muita alegria e
orgulho da “precocidade” da primogênita.
Por isso, o
título do blog é uma homenagem a meu pai, Humberto Narbot.

sábado, 27 de abril de 2013

RESOLUÇÃO


É preciso deixar
que as rosas
floresçam abandonadas,
somente sol, chuva
e matas,
e que os espinhos
cresçam guerreiros
e carrascos,
somente dor, tristeza
e mágoas.
Porque é preciso deixar
de ser o modo de ser
 
                                   dos outros.                   

sexta-feira, 26 de abril de 2013

POETAS


Tenho versos escorrendo de meus dedos

                                                     -          são brinquedos

Ouço sons articulados noutras bocas

             -    vozes roucas

Sinto sonhos escoando em outras mentes

         -    imagens loucas

 

Versos, sons, sonhos,

tudo é fantasia.

Somos todos poetas

da vida que se passa

em íntimos refolhos,

em fechados corações,

em estômagos doendo de medo,

em bocas secas de ansiedade,

em olhos arregalados de pavor.

 

Todos, poetas loucos

de recônditas paisagens

de antigos, impossíveis amores

de velhas, humanas dores

de perdidas, esquecidas ilusões,

Retratistas em branco-e-preto

da alma humana

                                        -          e suas paixões.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

SEM TEMA


 

 

Cansada de sentir o olhar do mundo,

ausente de sonhos, fugindo de visões,

refúgio triste de ilusões perdidas,

longe de amores e de céus azuis,

o olhar tristonho, terno e magoado,

sozinha trilho a rota da saudade.

 

A eterna busca da felicidade

lá entre brumas banhadas de luar

e errantes mundos rudes,

 deixou no escuro céu

tristezas simples

orvalhos de saudade.

terça-feira, 23 de abril de 2013

SONHOS NÃO SONHADOS


 

São sonhos

que os olhos não viram

no fundo verde da vida.

São sonhos

que a dor buscou

em meio ao vazio

das coisas reais

e em meio ao eco

de lendários cantos.

São sonhos

que a noite trouxe

para a ânsia louca

de viver correndo

com a imensa pressa

de tudo ouvir e ver,

e que por isso

ficam sempre sendo

aqueles sonhos

                     que eu não pude ter.   

domingo, 21 de abril de 2013

IMPOSSIBILIDADE



Um poema triste

flui de meu ser

e não consigo

deixar de ser triste

e de escrever poemas.

Um poema triste,

pedido recusado,

flui de meus olhos

para o teu olhar.

E eu não consigo

calar meu pedido
                         
                        e deixar de te olhar. 

sábado, 20 de abril de 2013

EM VÃO


Tantos heróis

lutando bravamente

pelo Nada.

Em vão

feriram-se e mataram.

Após a luta,

no campo deserto,

jaz a Vida
                            
                     toda feita cacos.         

sexta-feira, 19 de abril de 2013

EXPECTATIVA



UBATUBA 
 (foto da autora)
 
 
Rodavam pela estrada rumo ao litoral. Chegaram à Serra do Mar. A serra estava linda, toda florida em tons de roxo, branco, rosa e lilás. Não só os manacás, mas também as quaresmeiras, já estavam floridos. A ansiedade foi crescendo, aos poucos, até um ponto quase insuportável.
Foi então que a menina escapou de dentro dela. Esticava o pescoço para, lá do alto, ver o mar. Ei-lo, um pequeno vislumbre de água brilhando ao sol. Mais algumas curvas e ele iria apresentar-se em nova e melhor visão. A menina sabia que agora faltava pouco. Mais um trecho de curvas e estrada, e lá estaria ele, à sua espera.
Então, cabelos ao vento, caminharia descalça sobre a areia macia, ao seu encontro. Ele beijar-lhe-ia os pés, acariciar-lhe-ia a pele morna do sol, envolvê-la-ia em seu abraço salgado. Na fímbria do mar, as conchas estariam esperando que ela as recolhesse.
A menina, então, aquietou-se. Sabia que, pelos próximos dias, seria ela a viver naquele corpo de mulher.
Depois, quando de novo subissem a serra, recolher-se-ia, quieta, submissa, até que de novo voltassem ao mar.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

BORRASCA


 

 

Além da janela o vento assobiava

Folhas secas rodopiavam pela rua

A borrasca que já se anunciava

Punha no céu clarões, cobria a lua.

 

De puro medo, o coração se confrangia

Ao perceber em revolta a Natureza

E ao buscar escapar à agonia

Do medo, refugiou-se na beleza

 

Dos raios coruscantes, luminosos.

Riscando o céu, fugazes e velozes

E em seu brilho, solenes, majestosos

 

Deixando um rastro de luz em sua trilha.

Profundas, tonitruantes vozes,

Grandiloqüente espetáculo, maravilha!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE



Imagem Google
 
Assim Caminha a Humanidade...
  
Ladrões explodem um caixa eletrônico. Adolescente é morto na porta de casa. Casal de idosos é assassinado dentro do próprio lar. Jovem é baleada na cabeça pelo namorado. Morador de rua é espancado até à morte. Três explosões de bombas em Boston, próximas à linha de chegada da Maratona, deixando três mortos e centenas de feridos. Feridos como se tivessem ido à guerra, vários tendo membros amputados.
O que está acontecendo com a Humanidade? Para onde caminhamos? Isto é Civilização?
Os Iluministas tinham a certeza de que, com o progresso da Ciência, a Humanidade atingiria um patamar de civilização sequer imaginado. Coitados, iludiram-se! Porque, se o progresso tecnológico é inegável, propiciando conforto e facilidades incontestáveis, do ponto de vista ético e moral, o que estamos vendo está longe de poder ser considerado civilização. A vida humana já não vale nada. Só o que conta é dinheiro e poder.
Nos anos 1960 ou 70, foi feito um filme que, em português, se chamava O Planeta dos Macacos. Nele se apresentava Nova Iorque destruída, a humanidade dizimada, e o planeta governado por macacos. Há que refazer a história porque, com a potência das armas atuais e a virulência dos homens que governam, não vão sobrar nem os macacos. Talvez nem amebas e vírus sobrevivam.


terça-feira, 16 de abril de 2013

PROSAICA POESIA



(Foto da autora)

 
 

Sobre a pia avoluma-se a louça do ajantarado de domingo.

Preparando-se para iniciar a tediosa tarefa, a mulher recorda.

Domingo, almoço tardio, reunião à volta da mesa farta e apetitosa. O marido, companheiro de lutas, cúmplice de horas secretas. Os filhos amados, desejados, ansiosamente esperados. Outros seres queridos, consangüíneos ou não, parceiros de horas alegres, amparo em momentos difíceis. Companheiros de jornada, todos. Reunidos, conversa alegre, o riso correndo solto. Momento de felicidade, jóia rara, a ser guardada com carinho.

E agora, aquela louça suja exigindo limpeza. Enquanto faz o que é preciso, ouve que ecoam ainda pela casa os risos, a conversa, a alegria. E sorri feliz, enquanto trabalha.

Tarefa executada, cozinha limpa e enfeitada, missão cumprida, a mulher senta-se para um cafezinho. E pensa.

Pensa no trabalho realizado como um símbolo. De um certo modo, é sua coroa de louros da vitória. Vitória de haver conseguido reunir em seu lar o amor, a alegria, a harmonia. Importa lá a louça suja, a confusão, a trabalheira. Bom mesmo é ter a seu redor a família feliz, unida. E ter abertas, para os amigos, as portas do lar. Recebê-los com amor e alegria. Sentir-se viva.

Continua suas reflexões. Vê que o amor perpassa a vida, ainda a mais simples, comum e rotineira; ali se encontra também, rondando, a fantasia. E que, se soubermos descobri-la, mesmo em atos corriqueiros manifesta-se a poesia. Prosaica, talvez. Mas ainda assim, poesia.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A MÚSICA "SAUDADE DA AMÉLIA" É MACHISTA?


Dia desses vi na televisão um programa que homenageava o centenário do compositor e ator Mário Lago.
Em se tratando de Mário Lago, impossível não nos lembrarmos da música “Saudades da Amélia”, que ele compôs em parceria com Ataulfo Alves.
Composta em 1942, a música é conhecida até hoje. Foi tachada de machista. De toda  mulher submissa à vontade do marido, quase escrava das tarefas do lar, dizia-se que era uma “Amélia”.
Os participantes do programa discordavam desse epíteto de machista aplicado à canção. Diziam que ela não é machista, mas canta a solidariedade. Será ou não?
A canção nos mostra dois tipos de mulher: aquela que só pensa em luxo e riqueza, e aquela que não tem a menor vaidade. Mas, qual delas será a mulher de verdade?
Nos dias de hoje, alguém que só pense em luxo e riqueza, e que queira tudo o que vê, conforme diz a canção, seja mulher ou homem, recebe a classificação de consumista. O consumismo é um fato, já cantado em prosa e verso. Quem sofre desse mal quer comprar, possuir, seja lá o que for: da roupa da moda até a mansão de luxo, não esquecendo o carro do ano, o iate, a casa de campo, etc. Talvez por serem pessoas que não acreditam em seu valor pessoal e necessitam valorizar-se pela aparência, pela “casca”. Talvez sejam apenas influenciados pelo seu meio social. Ou talvez sejam egocêntricos, vazios, quem sabe?
O fato é que a mulher que, na canção, só pensava em luxo e riqueza, além de consumista, parece que desejava ter seus desejos satisfeitos pelo parceiro “provedor”. Pelo menos é o que sugere o lamento do, digamos, protagonista da letra musical.
E Amélia, a que era a mulher de verdade? Dela é dito que não tinha vaidade, numa sugestão de que se contentava com o que a vida lhe oferecia. E, se achava bonito não ter o que comer, era porque passava fome ao lado do companheiro. Nesta expressão “ao lado” é que se encontra a sugestão da solidariedade. A aceitação da vicissitude ocorre desde que junto com o companheiro, com ele dividindo alegrias e tristezas.  Em nenhum momento a canção sugere escravidão, submissão, mas sim aceitação, o que é bem diferente.
Quero crer que os que defendem a música “Saudades da Amélia’ como não sendo machista, discriminatória, mas sim um louvor à solidariedade, têm razão. A crítica, se existe, é a alguém que espera que o outro lhe proporcione tudo: do amor ao luxo. E o louvor se dirige a quem ama pelo que o outro é, não pelo que este lhe possa dar.
Quanto aos submissos de plantão, sejam eles de que sexo forem, sinto muito.  Não são amélias, não. São apenas pessoas que não encontraram a força, a coragem, a ousadia, de livrar-se da submissão.
 
Campinas, 26/11/2011
 
 
 
 

 

domingo, 14 de abril de 2013

INSÔNIA


Sonhos inúteis

vagam sem destino

nas sombras de meu quarto.

E para não sonhá-los

não durmo.

sábado, 13 de abril de 2013

NOITE DE CHUVA


Noite sem lua.

Artificial

como a luz que se vê

na rua sem sons

exceto o da chuva

que molha a calçada

de pedras azuis,

tão pobre de gente

de amor e de sonhos,

tão noite de chuva

e de se estar só.

 

São Paulo, 1962.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

SINHOZINHO E OS FRANGOS


 
No início dos anos 1950 a vida era bem diferente, com menos comodidades do que as que temos hoje, lógico.
Não havia, por exemplo, supermercados. Comprava-se no armazém de secos e molhados, empório, mercearia ou, como mais comumente se falava, na “venda”.
Algumas pessoas compravam à vista. Outras faziam uso de uma instituição chamada “caderneta”. A cada vez que ia à venda, o freguês levava a caderneta, onde o dono ou o balconista do armazém anotava as compras feitas. No dia em que recebia seu salário, o freguês quitava a dívida e a seguir começava outra. Acho que todo o mundo já ouviu a expressão “freguês de caderneta”.
A vida moderna substituiu a caderneta pelo cartão de crédito.  E, entre outras facilidades, passou a nos proporcionar o supermercado, os congelados, os frangos e perus já limpos, prontos para o forno.
No tempo da venda, não havia nada disso. Comprava-se os frangos ainda vivos. Algumas vezes, o fornecedor, que geralmente os criava no quintal de casa, consentia em entregá-los mortos, caso o freguês fosse menos corajoso. Mas, a tarefa de depená-los cabia à dona-de-casa. A casa ficava com o horrível cheiro de frango depenado por dias e dias. Porque o método utilizado consistia em “queimar” as penas para soltá-las. Se acrescermos a este trabalho insano e mal-cheiroso, o fato de que frango era coisa cara, já se vê que o consumo não era grande. Havia um ditado que dizia; “Quando pobre come galinha, um dos dois está doente; em geral é a galinha.”
Num bairro de São Paulo havia um homem conhecido por Sinhozinho que, já aposentado, criava em seu quintal, galinhas para vender. Mas não as criava soltas, e sim em gaiolas. Seria um precursor dos frangos de granja?
Sinhozinho era freguês de uma das tais vendas lá do bairro. O proprietário dela, homem de idéias progressistas e avançadas, propôs-lhe então um negócio: que tal se a mercearia pegasse encomendas de frangos já limpos, para o fim de semana? Sinhozinho poderia trazer os frangos limpos, e o lucro de ambos, por esse diferencial, seria maior. Sinhozinho concordou, e os dois precursores do frango limpo iniciaram o negócio. Foi colocado um cartaz na mercearia anunciando que, no fim de semana seguinte, estariam à venda, sob encomenda, frangos já limpos.
No primeiro fim de semana venderam quinze frangos. No fim de semana seguinte, a procura aumentou. No terceiro fim de semana, a coisa desandou.
Sábado à tarde, Sinhozinho chega à mercearia esbravejando. Sujo, descabelado, coberto de penas, cheirando a frango depenado, entregou os pontos. Disse que não precisava daquilo, que não sabia porque havia se metido em tal enrascada, que não ia limpar mais frangos coisa nenhuma.
Como fazer com as encomendas? Situação difícil. A família do dono da mercearia dispôs-se a ir à casa de Sinhozinho ajudá-lo com o que faltasse.
Ao lá chegar, encontraram a casa imunda, com penas sobre todos os móveis, cobrindo o chão, fedor de frango depenado. A mulher de Sinhozinho estava uma fera. Era, enfim, um caos.
Enfim, o trabalho foi concluído, as encomendas entregues. Mas, a ideia precursora de vender frangos já limpos, estava morta e enterrada.
Sinhozinho vendeu todos os frangos que tinha em casa, inclusive com as gaiolas e nunca mais quis saber de criar frangos. Consta, aliás, que nunca mais sequer comeu carne da ave.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

EM VÃO


 

Tantos heróis

lutando bravamente

pelo Nada.

Em vão

feriram-se e mataram.

Após a luta,

no campo deserto,

jaz a Vida
 
                     toda feita cacos.        

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ONDA (POETRIX)

 
 
Onda
 
Mar
Pensamento ondulante
Di_vaga
Foto da autora - Ubatuba

Montagem do texto na foto: Anita D Cambuim

CONCLUSÃO


Eu vi

meu gesto tão sofrido

repetido

em outros gestos

(mais aflitos).

Eu vi

meu sonho esquecido

refletido

em outros sonhos

(revivido).

Eu vi

minha ternura sem sentido

com sentido

em outras ternuras

(ecoando).

Então

eu vi

que não sou só

(ou só olhando).

terça-feira, 9 de abril de 2013

CINQUE TERRE


Manarola, Cinque Terre - setembro de 2010 - foto da autora



Cinque Terre

(de um Diário de Viagem)

 

Cinque Terre, literalmente Cinco Terras. Cinco cidadezinhas muito próximas entre si, na costa da Ligúria, Itália. Tão próximas que o trem leva, entre uma e outra, não mais que cinco minutos. São cinco milhas de costa rochosa no Mediterrâneo, entre dois promontórios.  As Cinque Terre, em 1997, foram eleitas pela Unesco Patrimônio da Humanidade.

São pequenas vilas encarapitadas nas montanhas, a cavaleiro do mar, em pequenas enseadas. As montanhas são cortadas em terraços, onde há vinhedos e olivais. Nas piazzas e piazzetas, encontram-se “estacionados” barcos. Casario antigo, colorido, roupas penduradas em varais do lado de fora de varandas e janelas. Lojinhas que vendem vinho, azeite, e especialidades locais, além dos souvenirs. Em todas elas, ruelas em ladeiras íngremes, mas encantadoras.

O melhor meio de visitar estas cidadezinhas é o trem, porque nem todas as cinco localidades tem ligação rodoviária entre si e, em boa parte delas, carros não entram. O trem segue costeando o mar.

O por do sol nesta Riviera do Levante, é magnífico, de tirar o fôlego.

Em uma delas, Manarola, o cemitério fica no alto da rocha, frente para o mar e de face ao deslumbrante tramonto (por do sol). No muro que faceia o mar e o poente, há uma placa com os seguintes dizeres:

“Ó cemitérios lígures, abertos aos ventos e às ondas! Uma rósea tristeza vos colore quando, à tarde, semelhante a uma flor que murchasse, a grande luz vai-se dissolvendo e morre.” (tradução livre)

Comovente placa, deslumbrante por do sol, paisagem maravilhosa, recordações para uma vida!

 


segunda-feira, 8 de abril de 2013

AGRADECIMENTO



Giardino Pubblico di Porta Venezia - Milão - 2010 - foto da autora




Cansada que estou da longa viagem

pela estrada cheia de sol

e de pedras,

agradeço-Te, Senhor,

a sombra amiga da árvore

que plantaste

em meu caminho.

 

 

São Paulo, 10 fevereiro 1964.