HOMENAGEM


Homenagem



Aos quatro ou
cinco anos, eu era uma garotinha que já gostava de fazer versos. Parece que eu
encerrava as minhas “apresentações” sempre com a mesma frase: bonecas no meu
coração. Tudo a ver com a minha paixão do momento...
Ao longo de
minha vida ouvi meu pai repetir esta estória. Aliás, sempre com muita alegria e
orgulho da “precocidade” da primogênita.
Por isso, o
título do blog é uma homenagem a meu pai, Humberto Narbot.

sábado, 9 de março de 2013

AUTORRETRATO


Esta mulher que me fita do fundo do espelho

acho que não sou eu.

Mas se eu não sou ela e ela não sou eu,

então quem sou eu?

Sou todas as rugas de minha face

Sou todos os fios brancos de meus cabelos

Sou todo o cansaço de meu corpo

Sou todos os pensamentos que pensei

Sou todos os sentimentos e emoções que senti

Sou todos os sonhos que sonhei

Sou todas as experiências que vivi

Sou tudo o que deveria e o que não deveria ter feito

Sou tudo o que fiz e tudo o que não fiz.

Sou tudo isto e ainda mais,

pois sou também as rugas que a plástica levou

os fios brancos de cabelos que tingi

tudo aquilo que fingi

o amontoado de pensamentos, sonhos e sentimentos

que se escondem

em cantos escuros da memória

em pontos recônditos do coração

em pregas e vincos da alma,

alguns envergonhados, outros tristes,

mordidos de remorsos pelo que poderia ter sido

e não foi, ou foi errado.

Sou ainda

o que pensaram de mim

o que sentiram por mim

o que sonharam para mim

o que viveram por mim

o que me deixaram viver

o que me deixaram sentir

o que me deixaram sonhar

o que não me deixaram viver

o que não me deixaram sentir

o que não me deixaram sonhar

o muito ou pouco que me amaram.

Por isso olho e não me reconheço.

Porque ao me olhar no espelho

só me vejo com o olhar do momento fugaz

em que meus olhos encontram meus olhos

no fundo do espelho.  

12 comentários:

  1. Obrigada, Elizabeth, pela leitura e comentário.

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  2. Oi, Lu! Incrível poema! Somos tantas coisas...

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  3. Oi Ana! Somos várias e, como poetas temos ainda mais faces, inclusive a do fingidor tão bem escrita por Pessoa! Obrigada pela leitura.

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  4. Ana, que maravilha de poesia.Sua criatividade foi genial, ao desnudar o seu próprio eu. Parabéns!!!

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  5. Obrigada, wilson por seu comentário. Lu

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  6. Excelente, Lu!
    Ainda há pessoas que não conseguem se olhar no espelho.
    Meus aplausos!
    Deus te abençoe!

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  7. Obrigada, Bosco Esmeraldo, pela leitura e comentário.

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  8. PARABÉNS LU NARBOT.
    AMEI SEU BLOG E SEU TEXTO.
    QUE ENGRAÇADO,QUANDO SURGIU A MUSICA DO ROBERTO...EU ESCREVI UM TEXTO ESSA MULHER NÃO SOU EU... E AGORA VI QUE TAMBÉM AS VEZES NÃO TE RECONHECES...
    PARABÉNS. ABRAÇOS CATARINENSES

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  9. Arlete, obrigada pela leitura e comentário. Realmente, às vezes a gente não se reconhece mesmo. Coisas de mulher que, segundo dizem, é complicada, ou coisa de poeta.

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  10. Creio que todos nos fazemos as mesmas perguntas. No fundo, lá estamos, naquele reflexo. E muitas vezes não nos reconhecemos. Bjs.

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