HOMENAGEM


Homenagem



Aos quatro ou
cinco anos, eu era uma garotinha que já gostava de fazer versos. Parece que eu
encerrava as minhas “apresentações” sempre com a mesma frase: bonecas no meu
coração. Tudo a ver com a minha paixão do momento...
Ao longo de
minha vida ouvi meu pai repetir esta estória. Aliás, sempre com muita alegria e
orgulho da “precocidade” da primogênita.
Por isso, o
título do blog é uma homenagem a meu pai, Humberto Narbot.

domingo, 16 de novembro de 2014

Reminiscências da Infância

 
 



O som dos sinos, melodia antiga a destoar em meio ao moderno ruído das buzinas, traz reminiscências de um tempo diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Àquela época, os sinos marcavam nossas horas, nos chamando para a missa, a reza. Conhecíamos as diferenças no seu badalar, se era um dobre alegre ou triste, boa ou má notícia.

Crianças cantando - na realidade, berrando – na missa: “prometi na piscina sagrada, a Jesus sempre e sempre adorar...” (Elas diziam pescina)

Nas ruas de paralelepípedos, o caminhão do leite deixa o som das garrafas a chacoalhar em seus engradados.

O padeiro, controlando burro e carroça, entregando os pães às portas dos fregueses.

O verdureiro apregoando sua mercadoria.

Os bondes deslizando nos trilhos, gente a correr ao seu encalço, para não perder a hora do trabalho ou da escola. Cobrador e motorneiro, sempre os mesmos nos mesmos horários, com paciência e tempo para esperar seus passageiros, também sempre os mesmos. Todos se conheciam pelos nomes.

Gritos e cantos de crianças brincando na rua, jogando bola, pulando corda, brincando de pega-pega.

Vizinhos conversando às portas das casas. “Bom dia, dona Fulana, seu filhinho melhorou?”

A empregada varrendo a casa ao som da radionovela.

Mães mandando seus filhos buscar alguma coisa na mercearia da esquina, a do japonês: “pede pra marcar na caderneta.”

Gente varrendo as calçadas, alguns a regar os jardins.

Aqui e ali, em alguns quintais, galinhas ciscando, um galo cantando.

Os bem-te-vis gritando que tinham visto, mas não dizendo o quê...

Os aposentados dando umas voltinhas pelas ruas do bairro, trocando um dedo de prosa entre si, comentando as notícias do jornal.

Cheiro bom de bolo de fubá e café recém-coado.

Pressa havia, que todo mundo tinha horários a cumprir, mas parece que não era tanta quanto hoje. Menos carros nas ruas, trânsito mais fácil, gente mais paciente, sei lá...

Menos violência, menos medo, mais liberdade...

 

Minhas recordações não se referem a pequena vila no interior, não. Falo de minha infância, nos anos 50 do século passado, num bairro da zona sul de São Paulo. Acredite quem quiser!


(do livro Uma Rede na Varanda)

Um comentário:

  1. Adorei sua crônica, Lu. Quando eu era adolescente, ainda peguei São Paulo quase desse mesmo jeito. Voltei no tempo...

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