Alinhavos
Estou querendo alinhavar ideias. Mas, elas não aceitam
ser emendadas com um fio qualquer. Exigem o fio da inspiração, fio delicado,
fino, que se rompe à toa. Tinhoso, também, não se deixa segurar com facilidade.
Maleável, escorregadio, escorre por entre os dedos, e lá se vai o alinhavar.
Deixa-se perturbar pelo ruído de patas de cavalo no asfalto, som inusitado na
cidade grande. Escapa da agulha e se perde no vozerio que sobe da calçada
apinhada de desocupados. Começa a enlear-se no perfume das flores do jardim,
enreda as crianças que estão a brincar no balanço. Vagueia estonteado em meio à
trepidação ruidosa da grande avenida. Persegue a moça da saia curta, estaca em
frente à vitrine tentadora e vai-se, completamente esquecido de sua obrigação
de fio. Ficaram as ideias à deriva, sonhando ser bordadas, unidas, bem
costuradas num texto minimamente coerente.
Amo esses passeios pelos alinhavos... O resultado é tão espontâneo que por vezes nem é necessário costurar. Gostei muito!
ResponderExcluirInteressante é que essa trança nos faz caminhar sobre ela a explorar, ou degustar, todo espacinho da poesia nela derramada. Isso é coisa de Lu Narbot, graças a Deus.
ResponderExcluirObrigada, Márcio, pela leitura e comentário. Abraços.
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