No livro “A Garota das Laranjas”, de Jostein Gaarder, o personagem Georg
cita “o velho caderno da casa de campo”, onde seu pai costumava fazer
anotações. Quando o pai de Georg morreu, este tinha apenas quatro anos. Foi
através deste caderno, e de uma carta que o pai lhe deixou, que Georg pode
tomar contato com fatos de sua primeira infância, e conhecer melhor o pai de
quem mal se lembrava.
Inspirada neste caderno da casa de campo, resolvi-me a ter um caderno da
casa de praia.
Por que não? Afinal, todos nós, seres humanos, somos dotados da
capacidade de pensar. Capacidade, aliás, compulsória, porque não conseguimos
deixar de exercê-la.
Embora não sejamos filósofos, grandes pensadores, sábios ou eruditos,
ainda assim, ao longo da vida, vamos construindo nossas ideias e conjunto de
valores. Em contato com outros seres humanos, com livros, filmes, músicas,
acontecimentos, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos, vamo-nos
modificando, amadurecendo. Forjamos nossos conceitos sobre a vida e o viver.
Por que não registrá-los?
No caso do livro, era um pai com uma doença terminal, que sabia que não
iria ver o filho crescer. Quis, então, deixar algo de si ao filho pequeno, para
que este, quando adulto, pudesse conhecê-lo.
Não chegamos, talvez, a esta tragédia. Inclusive, nossos filhos e netos
podem nem se interessar por aquilo que temos a dizer. Mas, o fato de escrever
sobre o que pensamos e sentimos, fornece-nos a oportunidade de atingir o
autoconhecimento, o que, convenhamos, não é pouco!
Dizia o grande filósofo grego da antiguidade: Conhece-te a ti mesmo.
Sigamos o conselho. Deixemos registrados em secretos cadernos,
pensamentos e sentimentos de cada momento. Ao relê-los mais tarde, certamente
muitas surpresas estar-nos-ão reservadas!